Dia do sacerdócio e dia mundial da voz.
Hoje é dia do Sacerdócio e da Voz, dou fé que um bom sacerdote deve ser um bom orador. O sacerdote ou sacerdotisa deve ser uma pessoa esclarecida, com conhecimento não somente da sua religião, mas ter uma dimensão dos fundamentos e dogmas de várias outras, e buscar conhecer cada dia mais e mais.
Sempre ressalto para meus filhos de santo e alunos, que todas as religiões são boas e maravilhosas, nenhuma religião foi criada com o propósito de fazer o mal, mas sim para pregar o amor dentro de uma determinada sociedade ou grupo de pessoas, porém o ser humano distorce o pilar de qualquer uma delas. Todas as religiões seguem uma mesma linha, que eu chamo de pilares religiosos: Amor ao próximo, Caridade e a Fraternidade, pois somos filhos de um único e grandioso Deus. A forma de encontrar o religare e de cultuar pode ser diferente, a linguagem pode ser diferente, as roupas, a cultura, mas todos nós somos filhos de um único Deus. Deus esse que não tem forma, pois é energia pura, inteligência suprema, amor verdadeiro, salvador e consolador. A verdade é que quem estraga as religiões são as PESSOAS.
“O sacerdote é o elo entre o mundo espiritual e o mundo material, sendo o responsável por zelar pelos fundamentos da casa, conduzir os rituais e orientar os filhos espirituais no caminho do axé.” — Prandi, Reginaldo. Segredos guardados: Orixás na alma brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Ser um sacerdote ou sacerdotisa é ser um porta-voz entre os fies e o sagrado. Portanto é uma grande responsabilidade, quem exerce está função tem que cuidar muito com o que prega, da fé ou endossa.
“A voz é uma ferramenta fundamental para a comunicação e expressão de emoções, ideias e personalidade. Ela é uma característica única de cada pessoa, que pode ser herdada e variar de acordo com o estado emocional.”
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) destaca que “a voz é o tato da comunicação, toca o outro ao transmitir ideias e sentimentos ”, e que ela “revela aspectos de nossa personalidade e de como estamos emocionalmente naquele momento e no contexto” .
O Hospital Sírio-Libanês afirma que “é por meio da voz que a personalidade é refletida, bem como o estado emocional e até mesmo nossa saúde geral.”
Como explicado, a voz é muito importante, podemos utilizá-la para abençoar ou amaldiçoar. Podemos cantar, rezar, ensinar, influenciar, incitar, aconselhar ou simplesmente e mais importante contar a nossa história, a história de outras culturas e descrever as maravilhas deste mundo de forma empírica e filosófica.
Seu Sete Espadas meu grande mentor espiritual sempre diz: “se não tem o que falar ou está pensando besteira, reze para não falar o que depois vá se arrepender”.
Pai José do Congo preto velho que trabalha comigo sempre ressalta: “sempre tenha um copo de água quando for conversar com alguém, pois, se necessário, encha a boca de água para não falar besteira.”
Vó Benta minha querida e amada pretinha velha diz que: “use sua voz para abençoar sempre, esse mundo já tem muita dor, sua voz tem que ser consolo, deve ser usada para trazer confiança e segurança”.
Ser um sacerdote muitas vezes é pesado, triste, cansativo e frustrante. Acredito que não falo somente por mim, mas por muitos, é pesado administrar uma igreja, terreiro ou templo, pois não é apenas cuidar do espiritual, é cuidar de um espaço físico onde se precisa pagar contas, é cuidar de inúmeras pessoas que não se preocupam se você tem problemas, mas elas querem que você resolva os delas, é administrar conflitos o tempo todo e cuidar com o tom de voz para que ninguém se ofenda. A tristeza de ver um filho querido sair da casa ou pedir afastamento. A frustração de não atender as expectativas, às vezes, bate as três da manhã e daí se torna mais uma noite sem dormir.
Ser um Porta-Voz de uma religião é perceber e ter a certeza que muitos dedos estão e serão apontados para mostrar seus defeitos e, poucas vezes alguém vai dizer “Valeuuuu”, ou ligar para perguntar se você está bem.
“A voz do sacerdote não é apenas som — é ponte entre mundos, sopro de axé, e o verbo que molda caminhos no sagrado.” (Frase autoral, inspirada em conceitos de estudos sobre religiosidade afro-brasileira.)