Em 1º de junho é celebrado o Dia Mundial do Leite, criado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, reconhecendo a importância do leite como alimento global, mas também chamando a atenção as atividades relacionadas a indústria do leite.
Uma data que à primeira vista parece apenas celebrar e cuidar de um alimento básico e essencial, mas quando entendemos a essência percebemos que o leite é muito mais do que nutrição física, ele é elo, afeto e amor.
Podemos entender o leite como símbolo de origem, de nascimento, de continuidade da vida. No reino animal, o leite se manifesta como elo entre mãe e cria, é através dele que a vida se sustenta nos primeiros respiros. E como não falar do feminino quando falamos de leite? É o primeiro alimento, corpo que alimenta outro corpo, nasce nos corpos que geram, que nutrem, que se fazem casa, colo e abrigo. Atravessa gerações e culturas, é cuidado, proteção e vínculo.
Mas essa data também carrega em si uma contradição. Se, por um lado, o leite representa sustento e cuidado, por outro lado ele carrega as marcas de um sistema que explora, sejam humanos ou animais.
No universo da produção de leite, sobretudo na indústria animal, fêmeas são sistematicamente exploradas, forçadas a ciclos intermináveis de gravidez e retirada de seus filhotes, para que o leite, que deveria nutrir apenas as suas crias, seja destinado ao consumo humano, reduzindo a existência desses animais a números, litros e lucro.
Da mesma forma, os corpos de muitas mulheres, ao longo da história foram alvos dessa lógica, especialmente no período da escravidão, quando mulheres negras foram cruelmente transformadas em amas de leite, forçadas a amamentar os filhos dos senhores, enquanto os seus próprios filhos morriam de fome, ao serem arrancados de seus braços. Como sempre, conseguimos fazer a ligação dessas datas a exploração, aqui neste caso, a exploração do ato de nutrir, algo que deveria ser sagrado, é transformado em produto pelo patriarcado, colonialismo e pelo capitalismo.
Por isso, falar de leite neste dia, é lembrar o que ele significava, é fazer um chamado sobre o que significa nutrir, cuidar e sustentar. Um alerta de consciência sobre o consumo ético, honrando os ciclos da natureza e cuidado com o meio ambiente, com responsabilidade, amor, sabedoria e sobretudo, equilíbrio. Agir com respeito por todas as formas de vida.
O leite é sagrado! É o amor em forma de matéria! É feminino! É força sem medida e que não se esgota!