Terreiro de Umbanda

Firmina do Rosário

Coluna Ubuntu

Minha cigana me mostra que depois do medo, existem os caminhos mais prósperos e firmes no mundo!

Minha cigana me mostra que depois do medo, existem os caminhos mais prósperos e firmes no mundo!

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Quando eu era criança, passei por uma situação familiar e tudo que podíamos fazer era rezar pelo membro da nossa família que estava doente, desenganada já. No hospital, encontrei uma pilha de santinhos que um padre havia deixado na sala de espera. Peguei uma, levei pra casa e rezei. No papel, dizia que ela era a advogada das causas impossíveis. Rezei com toda a força que eu possuía aos 9 anos, dois dias depois, esse membro da minha família teve alta.

Desde então, toda vez que algo aperta muito, rezo para minha santinha. E advinha? A Santa realmente atua no impossível. Anos depois, em 2021 quando conheci a Umbanda, um guia se apresentou pra mim e eu não sabia nem como reagir àquilo: era uma alegria, uma ansiedade e uma sensação de proteção que eu nunca tinha sentido – mas que era muito familiar. Nessa época, comecei a estudar pra tentar entender quem ela era e porquê eu estava me sentindo assim, afinal eu era kardecista e não sabia nada desse mundo.

Encontrei um conteúdo sobre ciganos na umbanda e sem saber, só comecei a me debruçar: em algumas literaturas, a padroeira dos ciganos no sincretismo é Santa Rita de Cássia – advogada dos impossíveis. O choro foi instantâneo, assim como o calor na nuca da sensação de que alguém estava me abraçando. Nas semanas seguintes, eu decidi entrar para o primeiro terreiro que fiz parte e da Umbanda nunca mais me despedi.

Ciganos são brilho, são festa e fartura, são família e alegria. Isso é o que todo mundo já sabe, né? Minha cigana me ensina, ao longo desses anos todos, que eles são muito mais profundos do que apenas alegria. Que a festa, às vezes, é para espantar a tristeza e o sofrimento que estão passando – ou seja, a festa cigana nem sempre é só alegria plena, mas também uma forma de expulsar a tristeza quando ela está mais presente do que tudo. E isso, em resumo, é o que ela mais me ensina: nada, para um cigano, é à toa.

Sabe aquele canto “o que é meu é da cigana, o que é dela não é meu”? Eu sempre brinco que nada que tenho é meu, pois sinto que tudo que ela consegue usar pra me proteger, ela faz. Seja uma cor, um colar, um brinco. Tudo ela me ensina que eu posso usar como um amuleto de proteção. Eles não fazem nada sem um significado, nada mesmo. Desde a roupa, o cabelo, acessórios, dança, bater palmas ou um pandeiro. As moedas são para honrar a prosperidade que suas mães, sogras, avós também honraram. Itens que gostam, incensos, perfumes, brilhos, tecidos… Nada é ao acaso. Os lenços, para esconder com grande mistério o que tem por baixo. A dança, os males espanta. A comida, para trazer ainda mais saúde e e solo fértil (seja ele material, quanto emocional).

Ciganos sabem trabalhar qualquer coisa para o bem, qualquer energia, qualquer elemento. Sempre foi difícil, pra mim, entender como que ela vem em tantas giras. Até que uma vez entendi, conversando com o Pai Olavo: se eles conseguiam se adaptar em qualquer lugar para morar, no astral eles também se “adaptam” à muitas vibrações. Não nos ensinam só sobre amor, sobre o que nos aguarda no futuro e não só falam de prosperidade. Cuidam da saúde, da alimentação, de ter cabeça fértil para ser próspero internamente, acima de tudo.

Minha cigana me ensina que você nunca dá um presente sozinho: presente de verdade, com eles, é trocado. Se você recebe algo, você precisa dar algo em troca. Pois tudo é compartilhado, fartura só é próspera se for compartilhada. E também que alegria e a festa são apenas algumas formas de conseguir trabalhar com o que precisamos.

A comida que vai nos tratar com o que estamos necessitados, a dança que vai espantar qualquer coisa que não precisa estar ali, o canto que vai te fazer lembrar de quem você é e quem você foi. A roupa que celebra não só sua ancestralidade, mas quem você é hoje. O aroma que trata, que cura e também te enfeita. Assim como suas dores: ela me ensina que aquilo que nos fez mal pode florescer e te transformar em algo muito mais forte – e bonito. E olha que como filhos do vento, movimentam tudo tão rápido que você até se assusta.

Mas isso só acontece se você está pronto. Se você escuta, se você vai atrás do que é verdadeiramente bom para você.
Ciganos me ensinam que somos próspero quando nossa cabeça é uma ótima tenda para se morar.

 

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