Terreiro de Umbanda

Firmina do Rosário

Coluna Ubuntu

Xamanismo e Umbanda: Tradições que Honram a Natureza e o Espiritual parte II

Xamanismo e Umbanda: Tradições que Honram a Natureza e o Espiritual parte II

A Relação dos Animais de Poder

A relação dos animais de poder no contexto do xamanismo e da Umbanda é profundamente simbólica e prática, conectando o ser humano às forças da natureza e ao plano espiritual. Esses animais são arquétipos que representam atributos específicos e servem como guias, protetores e fontes de energia em diversas tradições espirituais.

No xamanismo, os animais de poder são vistos como aliados espirituais que acompanham o praticante ao longo da vida. Cada animal possui características específicas que refletem qualidades, forças e desafios que o indivíduo pode cultivar ou superar. Eles são acessados por meio de jornadas espirituais ou sonhos, atuando como uma ponte entre o mundo físico e o espiritual. Exemplos de animais de poder no xamanismo incluem a águia, que simboliza visão, liberdade e conexão com o espiritual; o lobo, que representa sabedoria, força de liderança e lealdade; e a serpente, associada à transformação, cura e renovação. Esses animais simbolizam qualidades universais, mas a relação com eles é pessoal, e o praticante aprende com seu animal como acessar suas próprias forças internas.

Na Umbanda, a relação com os animais de poder é mais velada, mas aparece de forma significativa, especialmente na linha animal, que conecta diretamente às energias da natureza. Esses animais são frequentemente manifestados pelos guias espirituais, como Caboclos e entidades específicas, que trazem as vibrações e a simbologia desses seres.

No terreiro Firmina do Rosário (TUF), os trabalhos com a linha animal destacam-se na presença de panteras e cobras. As panteras, associadas à força, proteção, astúcia e limpezas profundas, são trabalhadas sob a orientação do Caboclo Akuã e do Caboclo Serra Negra. Já as cobras, ligadas à transformação, sabedoria, cura e quebra de magia, são manifestadas sob a orientação de guias como o Caboclo Ubirajara, o Caboclo Cobra Coral e o Caboclo Araribóia.

Embora a linha animal na Umbanda vá muito além desses exemplos, acessar essas energias exige preparo, desenvolvimento mediúnico e uma conexão profunda com os guias que as orientam. Uma das grandes preocupações do Caboclo Akuã com os filhos da casa é o controle da consciência, pois a força animal age pelo instinto. Para evitar excessos, é fundamental que o médium tenha domínio de sua energia e de sua consciência, mantendo clareza sobre o que está sendo feito e até que ponto ele pode ajudar.

Um exemplo vivido no terreiro ilustra essa questão. Durante um trabalho com a pantera, a médium se deixou levar pela força instintiva do animal. Enquanto a pantera removia as energias negativas do consulente, ela cavava um buraco cada vez mais profundo. Ao final do trabalho, o buraco era mais fundo que a própria médium, tornando praticamente impossível seu retorno à superfície. Sob a orientação do guia-chefe dessa linha, o Caboclo Akuã, a médium conseguiu retomar a consciência e sair daquele estado. Apesar de ter ficado bem, sua energia estava quase totalmente esgotada, evidenciando a importância de um controle consciente durante esses trabalhos espirituais.

Tanto no xamanismo quanto na Umbanda, os animais de poder reforçam a ideia de que somos parte de uma grande teia da vida, onde cada ser tem seu papel e energia específica. Esses aliados espirituais ajudam a acessar energias profundas e a desenvolver atributos que fortalecem nossa jornada espiritual. Eles nos lembram que, assim como cada animal possui sua força única, cada ser humano também carrega dons e potencialidades que podem ser descobertos, trabalhados e aprimorados.

 

Áudio do texto:

Leia também as últimas Colunas:

Gostou deste conteúdo?
Deixe seu comentário ao lado e compartilhe com seus contatos.

Facebook
Twitter
WhatsApp