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Xamanismo e Umbanda: Tradições que Honram a Natureza e o Espiritual – Introdução

Tradições que Honram a Natureza e o Espiritual

Xamanismo e Umbanda: Tradições que Honram a Natureza e o Espiritual – Introdução

Tradições que Honram a Natureza e o Espiritual

Este estudo sobre a relação entre o xamanismo e a Umbanda surgiu da minha trajetória como Pai Pequeno no terreiro Firmina do Rosário (TUF) e dos desafios que enfrentei ao buscar minha própria forma de conduzir as giras. Desde o início, percebi que cada Pai ou Mãe de santo conduz os trabalhos de maneira única, refletindo suas experiências, conexões espirituais e estilos pessoais. No entanto, encontrar meu caminho foi um processo desafiador e, muitas vezes, carregado de dúvidas.

Essas dificuldades me levaram a buscar inspiração na forma como outros sacerdotes e líderes espirituais da casa trabalhavam, como Pai Olavo, Seu Quebra Pedra e Mãe Luci com o guia espiritual Seu Rompe Nuvens. Cada um deles demonstrava um profundo alinhamento com seus guias, algo que eu inicialmente tentei imitar, mas logo percebi que o que funcionava para eles não fluía de forma natural para mim.

Foi então que, com o tempo e muita dedicação, passei a respeitar e confiar mais nos meus próprios guias espirituais. Eles me mostraram como cada um traz suas particularidades e formas de atuação. Seu Akuã, por exemplo, trabalha com a força de Ogum e Oxóssi, além da energia poderosa das Panteras, atuando na proteção e guarnição da casa e dos filhos.

Dona Jussara me ensinou a honrar a sabedoria ancestral das matas, das ervas, do sagrado feminino e das forças de Iansã e Ogum, sempre realizando limpezas no astral e no ambiente do terreiro.

Seu Águia Branca trouxe lições sobre elevação vibracional, permitindo que os guias atuassem sem a necessidade constante de incorporação. Por ser um dos guardiões do Roncó, ele não podia se ausentar constantemente. Assim, ele transmitia suas orientações espirituais de maneira vibracional, e eu conseguia senti-las e segui-las como mentor espiritual.

Por fim, Seu Lírio Branco, com a força de Oxóssi, Oxalá e Oxum, revelou como a conexão com os elementos naturais pode enriquecer os trabalhos espirituais. Trabalhar com ele foi um presente, pois ele me ajudou muito a encontrar minha identidade, levando-me para dentro da floresta de Pai Oxóssi. Ele mostrou não apenas as forças visíveis, como ervas, flores, animais, rios e pedreiras, mas também o oculto: os elementais, guardiões e detentores da magia natural, muitos deles sem uma forma definida.

Diante dessas experiências e aprendizados, comecei a refletir sobre as similaridades e os pontos de convergência entre o xamanismo e a Umbanda, especialmente na forma como ambas as tradições honram a natureza, os elementos e o plano espiritual. Esse estudo nasceu, então, da necessidade de compreender melhor como esses dois caminhos espirituais se entrelaçam, buscando não apenas expandir minha prática, mas também oferecer a todos uma visão mais ampla sobre como essas tradições dialogam entre si e enriquecem nossa espiritualidade.

Espero que este estudo traga reflexões e fortaleça nossa conexão com esse universo de energia que permeia nossas vidas. Vamos juntos explorar e aprender mais sobre essas tradições!

A relação entre o xamanismo e a Umbanda

A relação entre o xamanismo e a Umbanda revela a intersecção de dois caminhos espirituais que, embora diferentes em origem e prática, compartilham um profundo respeito pela natureza, a busca pela harmonia interior e o uso de ferramentas simbólicas para acessar o plano espiritual. Ambos representam formas de religiosidade e espiritualidade que colocam o ser humano em conexão direta com o universo e suas manifestações, promovendo cura, equilíbrio e autoconhecimento.

No xamanismo, a natureza é compreendida como um reflexo do sagrado. Os elementos terra, água, fogo e ar são considerados forças vivas que interagem com os praticantes, auxiliando na restauração do equilíbrio e na cura. Essa visão é refletida na Umbanda, onde os Orixás representam essas forças naturais, como Oxóssi, ligado às florestas; Iemanjá, aos mares; Oxum, aos rios; Iansã, aos ventos e Xangô, às pedras, o fogo e trovões. Esse entendimento da sacralidade da natureza cria um ponto de convergência entre as duas tradições, demonstrando como ambas promovem uma relação de respeito e reverência ao meio ambiente.

Os guias espirituais desempenham um papel central no xamanismo e na Umbanda. No primeiro, os animais de poder são energias protetoras que representam atributos essenciais, como a coragem do lobo ou a visão da águia. Na Umbanda, os guias são entidades como Caboclos, Pretos Velhos e Erês, que orientam, protegem e auxiliam os consulentes em suas jornadas espirituais e desafios cotidianos.

Essa presença de intermediários espirituais demonstra a similaridade na forma como ambas as tradições entendem a conexão entre o plano físico e o espiritual, enfatizando a importância do apoio e da sabedoria desses guias.

No nosso terreiro, Firmina do Rosário (TUF), vemos frequentemente o trabalho com a linha animal, mais comum com as cobras e as panteras, e isso só é possível através da orientação de alguns guias específicos, como o Caboclo Akuã e o Caboclo Serra Negra, que cuidam das panteras. Na linha das cobras, temos vários outros guias, como o Caboclo Ubirajara, Caboclo Cobra Coral, Caboclo Araribóia, dentre outros. É importante reforçar que a linha animal na Umbanda vai muito além desses exemplos, mas acessar e trabalhar com essas energias exige domínio e desenvolvimento mediúnico elevados.

Os ritmos e sons também desempenham uma função vital. No xamanismo, o tambor é chamado de “a canoa do xamã”, sendo usado para facilitar o acesso aos estados alterados de consciência e conectar o praticante ao coração da Terra. Na Umbanda, os atabaques cumprem um papel semelhante ao criar um campo energético que sustenta as práticas mediúnicas e conecta os participantes com os Orixás e guias espirituais. Ambos os sistemas reconhecem o poder do som para transformar a energia e promover a cura, reforçando a conexão espiritual.

Tanto o xamanismo quanto a Umbanda compartilham uma compreensão profunda sobre o processo de cura. No xamanismo, a cura envolve rituais de purificação com ervas, fumigações e jornadas espirituais para restaurar a harmonia e remover bloqueios energéticos. Na Umbanda, os passes espirituais, os banhos de ervas e a intervenção dos guias promovem o equilíbrio físico, mental e emocional. Ambas as tradições ensinam que a verdadeira cura começa dentro de cada indivíduo, por meio da reflexão, do autoconhecimento e da abertura à transformação.

A relação com os elementos da natureza – terra, água, fogo e ar – é essencial tanto no xamanismo quanto na Umbanda. Esses elementos são vistos como forças vivas e sagradas, que influenciam nossa energia, nossos trabalhos espirituais e a conexão com o plano divino.

A terra representa estabilidade, nutrição e a base de tudo. É a energia que nos sustenta e nos conecta às nossas raízes. Na Umbanda, está associada a Orixás como Omolu e Nanã, que nos lembram da importância do ciclo da vida. No xamanismo, a terra é reverenciada como a Mãe Terra, fonte de sabedoria e proteção, abrigando gnomos e duendes, seres elementais que guardam os segredos das florestas e dos minerais.

A água simboliza fluidez, emoções e purificação. Na Umbanda, ela está presente nos banhos de ervas, nas oferendas e na força de Orixás como Iemanjá e Oxum, que nos conectam ao sagrado feminino e à renovação emocional. No xamanismo, a água é habitada por ondinas e sereias, elementais que representam a intuição e o poder curador das águas, convidando-nos a fluir com os ciclos da vida.

O fogo é a energia transformadora, ligada à paixão, à renovação e à purificação. Na Umbanda, Xangô é o Orixá que manifesta essa força, representando a justiça e a transformação. No xamanismo, o fogo está presente em rituais que iluminam e transmutam energias, sendo guiado pelas salamandras, que simbolizam a intensidade e o calor espiritual necessários para mudanças profundas.

O ar está associado à inspiração, clareza mental e comunicação espiritual. Na Umbanda, Iansã governa os ventos e nos ensina a lidar com as transformações e a buscar a liberdade. No xamanismo, o ar é representado por silfos e fadas, que trazem leveza e criatividade, ajudando a elevar nossos pensamentos e intenções ao plano espiritual.

No terreiro Firmina do Rosário (TUF), os elementos da natureza estão presentes em todas as práticas espirituais, reforçando nossa conexão com o sagrado. Os banhos de ervas utilizam a força da água para ativar as energias naturais e purificar os corpos sutis. As velas simbolizam o fogo, trazendo luz, proteção e transformação aos trabalhos espirituais. A terra aparece nas oferendas, que devolvem ao chão sagrado o respeito e a gratidão pela sua energia. Os pontos cantados evocam a força do ar, elevando nossas preces e intenções às dimensões espirituais mais elevadas.

Embora os seres elementais, como gnomos, ondinas, salamandras e silfos, não sejam diretamente mencionados na Umbanda, suas energias podem ser percebidas de forma simbólica e complementar. No entanto, em nossa casa, no terreiro Firmina do Rosário (TUF), algumas dessas forças se manifestam de maneira muito presente. As salamandras são vistas nas linhas de cura, atuando no corpo dos consulentes, trazendo limpeza energética. Já as ondinas são chamadas em trabalhos ligados a Iemanjá, contribuindo com sua energia de fluidez e renovação.

Esses seres ajudam a equilibrar as forças naturais e ampliam nossa capacidade de interação com os elementos, promovendo harmonia, cura e evolução espiritual. Dessa forma, a interação com os elementos e seus aspectos espirituais demonstra como a natureza é uma aliada indispensável em nosso caminho de conexão com o divino.

 

 

 

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