Hoje, dia 26 de abril, é o dia mundial da Medicina Veterinária, a profissão que escolhi. Para o texto da coluna, até pensei em fazer uma pesquisa com um apanhado de dados: quem foi o primeiro veterinário relatado na história , como essa profissão mudou e evoluiu ao longo do tempo. Mas essa é uma pesquisa que atualmente qualquer um de vocês poderia realizar facilmente.
Resolvi então abordar esse dia de uma maneira um pouco diferente, e falar o que a medicina veterinária é para mim e como ao longo desses 14 anos, após formada, ela me modificou como pessoa.
Uma palavra que muito escuto quando se tenta definir a umbanda é: sentimento. Acho que essa palavra define a medicina veterinária para mim.
Quando eu era recém formada eu tinha uma tola visão “cor de rosa”, de que trabalharia com os animais, gostaria deles e tudo seria fácil, bonito e daria certo. Mas o mundo não é cor de rosa e a realidade se mostrou para mim, sem dó.
Junto com o sentimento de amor que eu sentia pelos animais e a vontade de curá-los, veio a responsabilidade e o peso que a cura traz. E que muitas vezes esse tratamento e essa cura não dependia apenas de mim e tão pouco do sentimento que tinha. Dependia dos tutores, de questões financeiras e de um fator chamado “resposta individual” de cada paciente. E que tudo isso estava totalmente fora do meu controle.
Não sei dizer quantas vezes senti meu mundo desmoronar, minha fala embargar e meu estômago revirar ao perder um paciente, quantas outras vezes senti raiva e julguei um tutor, um colega de profissão por inúmeras questões.
Em um determinado momento, decidi que não iria sentir mais nada, que passaria a não me apegar aos animais e eles seriam apenas o paciente, e como o pregado: devemos ter um distanciamento afetivo, para tratá-los. Foi sem dúvida, a pior escolha que fiz, tentar não sentir e mil vezes pior. O esforço para isso vai nos esgotando pelas beiradas, matando nossa luz aos poucos e destruindo a alegria e motivação.
Uma grande lição que não nos ensinam na faculdade é que vamos conviver com muitas mortes e lidaremos mais com as pessoas do imaginávamos. E nessa parte tenho que admitir que aprender a lidar com as pessoas é um grande desafio para mim.
A espiritualidade e o meu desenvolvimento tem me ajudado nesse desafio. A umbanda me ensinou a ver ao outro e a sua dor sem julgar, e também me fez me enxergar de outra maneira.
Hoje, acredito que a veterinária está presente em minha vida não só para me permitir cuidar e amar os animais, mas também para me ensinar a conviver e enxergar as outras pessoas de uma maneira melhor, amparada pelo amor mais puro que existe: o de um animal.
Hoje sei que a base para qualquer coisa é o amor, que poder cuidar de um animal e sua família com amor, respeito e dedicação nunca será errado, que se apegar, sentir e sofrer faz parte. Que eu talvez não mude o fato de que aquele animal irá morrer, mas que, com toda certeza, eu posso mudar a maneira que ele passará por isso, que talvez eu seja o último gesto de carinho e olhar de afeto que ele viu nesse mundo e a palavra de conforto para aquele que o perdeu.
O maior aprendizado que tenho a passar é: aplicar uma medicação, operar, fazer um curativo todos podemos aprender e nos tornar excelentes, agora entregar o nosso coração ao fazer isso, é apenas para os corajosos.
Entregar seu coração e cuidar da dor daqueles que não podem falar sobre ela, talvez seja algo que exista de mais próximo ao amor de Deus.
Ser um bom profissional, independente da área, está diretamente ligado ao quanto de amor você tem pelo que faz e ao quanto do seu coração entregará à isso.